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Sustentabilidade, tecnologia, política: especialistas comentam desafios do agro brasileiro em 2023

Segundo a Conab, expectativa é que a safra deste ano seja 15% maior do que a passada. Em Ribeirão Preto, SP, Agrishow debate o setor e apresenta novidades em maio.

A produção de grãos no Brasil para 2022/2023 prevê um aumento de 15% em relação à safra anterior, segundo o 7º Levantamento de Safra de Grãos divulgado na semana passada pela Companhia Nacional de Abastecimento (Conab). São 40,1 milhões de toneladas a mais, chegando ao total de 312,5 milhões de toneladas.

Uma das justificativas para os bons números, segundo especialistas, é o crescimento das áreas de plantio e a melhora da produtividade.

Mesmo com números promissores, especialistas ouvidos pelo g1 acreditam que é preciso cautela por causa de temas sensíveis ao agronegócio.

Eles comentam os principais desafios para o setor no Brasil ao longo de 2023 e que estarão em discussão na Agrishow, uma das principais feiras de tecnologia para o campo no mundo e que acontece de 1 a 5 de maio em Ribeirão Preto (SP).

Política nacional e internacional
De acordo com Pedro Estevão Bastos de Oliveira, presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas (CSMIA) da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas e Equipamentos (ABIMAQ), o Brasil é um país que não deve enfrentar grandes dificuldades no mercado interno.

“Temos uma boa bancada e não acredito que tenhamos problemas por aqui. Já no mercado externo existem muitos desafios a serem enfrentados esse ano, o Green Deal é um deles”, diz.

O Green Deal, ou Pacto Verde, foi lançado pela União Europeia para os países fornecedores de produtos agropecuários. A ideia é que a Europa se torne neutra na emissão de gases que provocam o efeito estufa até 2050.

As medidas seguem desde a redução das emissões até o investimento e a inovação para preservação do ambiente.

“Os europeus estão reivindicando uma legislação ambiental muito rigorosa lá e nos países de onde chegam os produtos. Eles resolveram legislar para o mundo inteiro e isso não vai funcionar. O Green Deal pode atrapalhar o Brasil no sentido de que a gente deixe de exportar algum produto que atualmente é exportado para a Europa”, afirma Pedro.
Ele acrescenta que além do Green Deal, o Brasil tem desafios como as barreiras tarifárias, as cotas para importação, a qualidade dos produtos que são exportados a necessidade de se prospectar novos mercados.

A soja, por exemplo, representou 36% do total de produtos brasileiros levados ao país em 2022, segundo dados do Ministério das Relações Exteriores. Já itens como carnes bovina, suína e de frango, celulose e açúcares chegaram a 17,2%.

“Estamos focando muito na China e isso precisa se abranger. Não é legal ficar só lá”.

Produtividade
A soja é o produto com maior volume de produção no Brasil, estimada em 153,6 milhões de toneladas.

O Progresso de Safra, também divulgado nesta semana pela Conab, indica que o índice de colheita chegará a 78,2%. Isso significa que a produtividade nas lavouras se confirma e pode chegar a 3.527 quilos por hectare.

De acordo com o presidente da Agrishow, Francisco Maturro, com exceção do estado do Rio Grande do Sul, as chuvas estão bastante regulares, o que impacta de forma positiva o desempenho das lavouras.

“Devemos ter safras robustas e consistentes para esse ano. Tivemos perdas no Rio Grande do Sul por falta de água, pela seca, mas aqui [Sudeste e Centro-Oeste] estamos com excesso de água, então a expectativa de produção é muito boa. O Brasil segue com crescimento de produtividade, somos o único país do mundo com mais de uma safra por ano”.

Especialistas acreditam que a boa produtividade no Brasil está atrelada ao investimento em tecnologia, mas o pequeno agricultor é o maior desafio para esse ano.

Pedro Bastos diz que a tecnologia funciona bem para os grandes e médios produtores.

“O pequeno agricultor tem ficado de fora e precisamos incluir o pequeno produtor. Nossas taxas de juros para máquinas estão muito altas, isso dificulta o acesso do pequeno a conseguir utilizar dessas tecnologias que acabam atendendo apenas os médios e grandes produtores”.

Competitividade mundial
O Brasil é o único país do mundo capaz de produzir mais de uma safra por ano, feito que se deve ao clima tropical. Enquanto isso, a maioria dos outros países vive e trabalha em clima temperado. Quando a neve chega, a agricultura para.

“A primeira grande evolução no Brasil foi o plantio direto, depois veio a segunda safra e a terceira são os sistemas de Integração Lavoura Pecuária-Floresta (ILP-F). Primeiro produzimos as leguminosas, depois uma gramínea e as pastagens. Chegamos a três, quatro safras por ano com muita facilidade. Em clima tropical somos campeões, ninguém bate a gente”, diz Maturro.

O presidente da Câmara Setorial de Máquinas e Implementos Agrícolas afirma que o Brasil só não exporta mais em razão das barreiras que são impostas.

“Tem muitos produtos que têm limite e cotas de exportação, só por isso não mandamos mais. Todo mundo tem medo da gente, somos muito mais competitivos que os outros países”, afirma Bastos.

Sustentabilidade
A agricultura brasileira está bem capacitada para enfrentar os desafios da sustentabilidade, é o que afirma Pedro Bastos.

“Nós temos matriz energética das mais limpas do mundo, temos práticas sustentáveis com o plantio direto. Estamos num bom caminho, mas temos algumas lições que precisamos trabalhar. A primeira delas é implementar o Código Florestal, isso começou mas só o estado de São Paulo está adiantado nisso. O restante está parado e precisa ser melhor implementado”, diz.

Outro assunto importante é combater ao desmatamento ilegal. Em fevereiro, segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe), alertas de desmatamento na Amazônia atingiram 322 quilômetros quadrados de floresta, uma área do tamanho de Belo Horizonte (MG). No Cerrado, foram perdidos 558 quilômetros quadrados de mata.

“É um assunto que está sempre na mídia e denigre nossa imagem lá fora, mas é um desmatamento ilegal, são pessoas que não são agricultores sérios. Isso precisa ser corrigido. Por fim também tem o desafio da discussão do marco legal para o sequestro de carbono, isso não tem legislação nacional e nem internacional”, acrescenta Bastos.

Segundo Maturro, o setor agro no Brasil é o único da economia brasileira que preserva 32% de área verde dentro das propriedades privadas. A integração lavoura-pecuária-floresta (ILPF) é o sistema que mais preserva no mundo.

“Os EUA recolhem e reciclam cerca de 30% das embalagens em agroquímicos; a Alemanha, cerca de 67%; o Brasil recolhe e recicla 94%. Hoje o brasileiro preserva por consciência, ele sabe da importância e do reflexo disso na produção”, afirma o presidente da Agrishow.

Emprego de tecnologias
O maior desafio da tecnologia hoje para o agro é a educação, segundo Pedro Bastos, porque é necessário mão de obra qualificada.

“A tecnologia avança muito rápido e não temos formado pessoas suficientes para lidar com tudo isso, falta mão de obra qualificada. Quando em educação, não é só o operador, é preciso treinar o gestor, porque ele precisa saber o que ele tem que comprar e como implementar isso no campo, tem que treinar o agrônomo e também o técnico agrícola. Então a educação é um desafio muito grande esse ano. Ela não acompanha a rapidez da evolução tecnológica”, afirma.

E quando o assunto são novas tecnologias e inovação para o agro, a Agrishow é uma vitrine para o setor. O presidente da feira diz que os fabricantes guardam as novidades sob segredo para serem apresentadas na feira.

“A tecnologia tem evoluído muito rápido, as máquinas estão se defasando em razão da tecnologia e não mais pelo excesso de uso”.

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